Sacana da velhota

1, 2, 3, 4, 5 segundos, ..., 1 minuto, 2, 3, 4, 5, ..., 10, ..., 30,..., uma hora,... uma hora e meia. Uma hora e meia é precisamente o tempo que tenho para degustar o almoço diariamente. É muito tempo para estar sentada numa cadeira em frente de um prato e por isso todos os dias compro o jornal para ler as notícias e fazer as diferenças e o sudoku numa esplanada em frente ao mar. Pronto, está bem, também leio o signo. Sempre!

Este é um ritual diário, excepto à sexta-feira (pq é dia de euromilhões e o quiosque está cheio) e se não tiver dinheiro, quer dizer se não tiver dinheiro ameaço um puto da escola com uma das minhas agendas e saco-lhe 1€, mas isso agora não interessa nada.

Curiosamente hoje não é sexta-feira e o quiosque estava atolhado de gente o que me levou de imediato à loja "tem tudo" da aldeia para adquirir o respectivo compacto notícioso. É curioso que quando lá cheguei ainda tinha tempo para ir almoçar mais duas vezes, porém até ao momento, e já passa das 15h, ainda não consegui sequer ler o título do jornal. Hoje, e ao contrário dos outros dias, atrás do balcão estava uma idosa de oitenta e tal anos, agarrada a uma canadiana. Quando lhe disse que pretendia levar o JN a senhora arrastou-se literalmente durante 5 minutos até ao sítio dos jornais e disse: assim não dá, tenho que ir buscar a outra muleta! E eu prevendo a morte da senhora no caminho para a segunda canadiana ofereci-lhe a minha ajuda, que a (Srª) velha, prontamente, recusou. Olha que esta! Se fosse agora passava-lhe uma rasteira, ómessa! Claro que depois de chegar à muleta, ainda teve que vir buscar o dinheiro, e o troco. No final das contas, bati todos os recordes de tempo gasto à espera de um jornal - 20 longos e penosos minutos, onde o ar me faltava a cada passada da senhora.

É triste - dizia a senhora.

E é. É muito triste eu não saber o que diz o meu signo para hoje... e daqui a nada já é amanhã!